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terça-feira, setembro 26, 2006

Mulheres ao Poder 2

Em tempos de Michelle Bachelet na presidência do Chile e Angela Merkel no comando da Alemanha, a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) anuncia a sua candidatura à Presidência da República no Brasil.

A comparação da brasileira com as líderes chilena e alemã pára por aí. Heloísa Helena sai candidata em um cenário pouco favorável: ela é a representante do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), partido fundado em junho de 2004. O PSOL tem uma das menores bancada da Câmara - apenas 7 dos 513 deputados são filiados à sigla.

Situação bem mais confortável enfrentaram suas colegas. Bachelet era a candidata do partido da situação no Chile e venceu com largos 53%. Merkel conquistou o cargo de chanceler com ampla maioria (obteve 397 dos 611 votos válidos) do Bundestag, o parlamento alemão.

O cenário adverso e os baixos índices registrados pelas pesquisas eleitorais -cerca de 5% das intenções de voto para presidente - não esfriam a candidatura de Heloísa, catapultada pela atuação nada discreta da senadora na CPI dos Correios.

Durante os trabalhos da comissão, bateu boca com o petista Maurício Rands (PE) e recebeu ameaças de morte por telefone - a senadora insinuou que as ameaças partiam do governo. "Se o governo Lula, junto com sua base de bajulação, acha que a camarilha do Palácio do Planalto pode me impor o medo, a velha ameaça dos expurgos e da tirania, para desmoralizar ou matar quem não se curva, pode tirar o cavalinho da chuva porque ele vai morrer de pneumonia", disse, em julho de 2005.

As perdas da infância
Os trabalhos da senadora na CPI renderam frutos. Em novembro de 2005, em eleição promovida pela revista "Forbes Brasil", foi eleita como a mulher mais influente na política e no legislativo Brasileiro. Em dezembro, a revista "IstoÉ Gente" elegeu a senadora uma das personalidades do ano de 2005.

Natural da cidade alagoana de Pão de Açúcar, Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho nasceu em 6 de junho de 1962 em uma família humilde. Seu pai, Luiz, funcionário público, morreu de câncer quando ela tinha apenas dois meses de idade. A família encolheu ainda mais com a morte do irmão mais velho, Cosme, assassinado ainda criança. Sobraram Heloísa, o irmão Hélio e a mãe. Para ajudar no sustento da casa, Heloísa chegou a trabalhar como bóia-fria.

Católica, mãe de dois filhos - Ian, 19, e Sacha, 22 - e divorciada após dois casamentos, a senadora é conhecida por usar sempre calças jeans e camisetas brancas no Congresso, contrariando a imagem sisuda e conservadora da casa. Ela está sempre de cabelos presos em um rabo de cavalo e diz que não ligar muito para a vaidade - nas poucas ocasiões em que apareceu de vestido no Congresso, foi elogiada pelos colegas.

Da infância difícil, Heloísa Helena trouxe uma de suas características mais marcantes: a verborragia. A senadora é famosa por não medir as palavras ao criticar adversários. Já classificou o ex-senador Luiz Estevão de "riquinho e ordinário", chamou o senador Antonio Carlos Magalhães de "capitão-do-mato" e acusou o presidente Lula de ter traído a esquerda - "ele mudou de lado", disse.

Formada em enfermagem e professora licenciada de epidemiologia do Centro de Saúde da Universidade Federal de Alagoas, Heloísa Helena seguiu trajetória política semelhante à de muitas lideranças da esquerda: iniciou o ativismo político no movimento estudantil e seguiu militando nos movimentos docente e sindical.

Em 1985, Heloísa filiou-se ao PT, e, em 1992, candidatou-se a vice-prefeita de Maceió na chapa que tinha Ronaldo Lessa (PSB) como prefeito. A chapa venceu e projetou Heloísa para as eleições estaduais de 1994, quando ela conseguiu se eleger para a Assembléia Legislativa.

As áreas de atuação da atual senadora estão ligadas, desde o início da carreira, a movimentos populares, como os sem-terra e os sem-teto, além de indigenistas.

Primeira senadora por Alagoas
Em 1996, sofreu o primeiro revés - perdeu a eleição para a prefeitura de Maceió no segundo turno para Kátia Born (PSB). Dois anos depois, conseguiu uma vaga no Congresso: foi eleita a primeira senadora por Alagoas, com um total de 374.931 votos - cerca de 56% do total do Estado.

Em 2002, o PT cogitou lançar seu nome para o governo alagoano, mas Heloísa não aceitou - a verticalização impunha que o partido se aliasse ao PL nas eleições. "O PL em Alagoas é formado por 'colloridos', moleques de usineiros e indiciados na CPI do Narcotráfico", declarou à época.

Foi por essa época que a trajetória política da senadora começou a tomar rumos divergentes do caminho petista. Com a vitória de Lula em 2002, Heloísa tornou-se uma das principais vozes da esquerda do PT. Opôs-se abertamente à indicação de Henrique Meirelles (à época ligado ao PSDB) para presidente do Banco Central e não apoiou a indicação de José Sarney (PMDB) para a presidência do Senado em 2003, contrariando as diretrizes do partido.

E não foi só. Em 2003, durante as discussões sobre a reforma da Previdência, uma das bandeiras do primeiro ano do governo Lula, Heloísa afirmou que a reforma da Previdência atende aos interesses dos "gigolôs do FMI". "Defendo uma reforma que possibilite uma ampliação de direitos, e não uma que seja aplaudida pelos gigolôs do FMI, pelos parasitas das corporações e pela direita brasileira, que, ao longo dos anos, saqueou os cofres públicos e desestruturou o aparelho do Estado", criticou.

A postura de Heloísa e de outros integrantes da tendência trostkista Democracia Socialista - os deputados João Fontes (SE), Luciana Genro (RS) e Babá (PA) - logo levou o grupo a receber o apelido de "radicais do PT". As divergências entre os "radicais" e o chamado núcleo duro do PT, presidido na época pelo ex-deputado José Genoino, culminaram na expulsão dos dissidentes do partido, em dezembro de 2003.

Heloísa Helena ficou sem partido por cerca de seis meses, até a fundação do PSOL em 2004 (o partido só obteve o registro definitivo em setembro de 2005). Na nova legenda, Heloísa manteve o calibre das críticas ao governo. Em junho de 2005, logo após as denúncias do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre o pagamento de mensalão pelo governo a parlamentares da base aliada, Heloísa Helena tornou-se integrante da CPI dos Correios, que investigava o caso. O destaque obtido na comissão, cujas sessões foram transmitidas em cadeia nacional, deu projeção ao nome de Heloísa e acabou cacifando-a para a disputa nacional.

Heloísa Helena declarou que sabe que vai entrar na campanha contra partidos poderosos. "Não vamos falar em alianças antes de concluir nosso programa alternativo para que não estejamos reproduzindo a medíocre matemática eleitoral", disse, no lançamento da candidatura.

A tendência do PSOL é se aliar aos esquerdistas - e igualmente nanicos - PSTU e PCB. Uma aliança com o PDT de Cristovam Buarque chegou a ser cogitada, mas não deve sair do papel. A verticalização deve impedir alianças do PSOL com partidos grandes e dar pouco tempo de TV a Heloísa durante o horário eleitoral gratuito. Mas as condições adversas não assustam a senadora. "O PSOL apresentará uma candidatura independente das condições objetivas eleitorais, dramáticas, traumáticas, dificílimas ou facilitadas por alguma conjunção do universo dos deuses", declarou.
artigo UOL

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